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Em 80 anos, o salto entre analógico e digital foi gritante e as pessoas de todas as gerações precisam se adaptar para saberem se comunicar.

Na época dos meus avós, as notícias de amigos, parentes e familiares chegavam por cartas. O remetente precisava escrever em um papel a história que queria contar, colocava em um envelope, selava e mandava pelos correios.

Hoje, na época dos meus filhos, eles pedem o meu celular pra mandar mensagem de voz pras mães dos amigos.

Das cartas às mensagens de áudio: quanta diferença!

No passado, as pessoas escreviam cartas para contar sobre acontecimentos relevantes, escolhiam palavras certas para não gerar ambiguidade e falta de entendimento.

As respostas demoravam semanas ou até meses para retornar.

No presente, os áudios vão com erros de concordância, de português, com tons de voz nem sempre cordiais e a espera é por uma resposta imediata.

Estou contando tudo isso pra refletirmos sobre a qualidade da nossa comunicação.

Meus avós ouviam rádio antes da chegada da televisão e se informavam também – no máximo! -, através do jornal impresso.

Para os meus filhos, da geração alpha, os principais canais de informação são televisão e Youtube.

Para manter a comunicação, as gerações precisam se adaptar às novidades.

Há 20 anos, as informações eram monopolizadas por grupos de comunicação e a população confiava nesses veículos. O que era dito no Jornal Nacional, no O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, revista Veja, jornal O Globo, era lei! Pura verdade! Quase inquestionável.

Como o acesso a internet, começaram a surgir os blogs.

Os leitores, que antes questionavam os jornais, enviando comentários que as vezes eram editados e publicados da sessão Carta do Leitor, perceberam que poderiam ter mais voz publicando suas opiniões em um espaço só seu, com o tamanho ilimitado.

Mesmo os próprios jornalistas, tinham canais próprios pra estender uma discussão, que não coube na edição do dia; para trazer outros detalhes que foram apurados, mas não foram utilizados nas edições.

As informações ainda estavam sob controle, mas menos centralizadas

Bom, eis que surgem as primeiras redes sociais. O MSN era um WhatsApp Web, que você passava seu PIN pro amigo e se conectavam pra jogar conversa fora. Horas e horas no chat! Adeus cartas!

Nessa época, o computador ainda era muito caro e geralmente cada casa contava com um desktop, que era dividido entre todos os membros da família.

Então, nem privacidade pra escrever o que quisesse ali, as pessoas tinham. “Vai que alguém lê!” “Vai que eu esqueço de desconectar minhas redes e alguém vê minhas conversas”.

As trocas de informações e conversas, apesar de estarem mais facilitadas, ainda tinham esse obstáculo a ser superado, até que chegamos no momento de hoje, em que cada pessoa tem seu próprio laptop e celular conectados, em que a Inteligência Artificial já consegue sincronizar os PINs das duas máquinas e conhecer o seu comportamento digital: as páginas que você gosta de acessar, os horários que mais fica online, quais os assuntos que mais te interessam.

Uma conversa com o celular por perto e dizer algo do tipo: “queria pesquisar o preço de um tênis”, é certeza que no mesmo dia você será impactado por anúncios da Nike, Privália, Adidas.. nas suas redes sociais ou nas páginas que costuma navegar.

Coincidência? Claro que não! Sua assistente virtual ouviu as palavras chave: pesquisar + tênis e já avisou o sistema, a Matrix, que avisou as lojas, que acharam o seus PINs e agilizaram o seu processo de busca.

Os meios de comunicação não estão sendo capazes de acompanhar essa velocidade

Percebam revistas cada vez mais finais, jornais que eram tamanho standart passaram pra tablóide pra ficar mais barato, jornalistas multitarefas, que são cinegrafistas, fotógrafos e radialistas ao mesmo tempo.

Se um cachorro se perde do dono, logo corre nos grupos de WhatsApp uma corrente do bem, não corre? Imagina se o jornal impresso tem a velocidade pra escrever uma matéria sobre o assunto, pegando o depoimento do dono, publicando foto do cachorro.. até o outro dia, o cachorro já voltou!

Se acontece um acidente de carro, já tem meia dúzia de pessoas fotografando, fazendo vídeo com o celular e publicando nas redes sociais no prazo de 2 minutos.

Você acha que o radialista tem tempo de chegar no local do acidente, apurar o que aconteceu e avisar os ouvintes? Não precisa! O povo já está sabendo!

A informação agora não tem monopólio

Depois outra febre no Brasil, o Orkut, super grande chance de colecionar os contatos dos amigos em uma única página, vendo o que eles estavam fazendo e ainda era capaz de classificar a pessoa, dando emojis pra dizer o quanto ela era confiável, legal e sexy.

Qualquer um fala o que quer, com as palavras que quer, sobre qualquer tipo de amenidade, vai fofoca mesmo, vai mentira, vai informação sem apurar mesmo.. o que vale é ser mais rápido do que o outro e se gabar por ser o dono da notícia.

As Fake News hoje superam notícias verdadeiras e todo mundo fica perdido pra saber o que é verdade e o que é mentira.

Os que acham que a grande mídia era o Quarto Poder, que manipulava populações mundiais, agora estão tendo o poder da mentira!

Eleições são ganhas por mentiras jogadas ao vento na internet, marcas são destruídas por comentários as vezes maldosos e feitos por robôs contratados pelos concorrentes.

E os meios de comunicação? Hoje são apenas mais uma opção de entretenimento.

E se não estiver no formato on demand, que eu posso escolher a hora que eu vou assistir, e não for acessível pelo celular, logo mais serão descartados também.

 

Antes de chegar a esse blog, o texto foi primeiramente postado no LinkedIn. Clique aqui pra ver! 

Livia Borges dos Santos

Livia Borges dos Santos

Sócia Proprietária da Oz Conteúdo

Jornalista